Fazer o bem com perseverança

Hb 6,10-20 

Irmãos: Deus não é injusto e não esquecerá vossas obras e a caridade que mostrastes por amor de seu nome, vós que servistes e continuais a servir os santos. Desejamos, apenas, que ponhais todo o empenho em guardar intacta a vossa esperança até o fim, e que, longe de vos tornardes negligentes, sejais imitadores daqueles que pela fé e paciência se tornam herdeiros das promessas.

Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não houvesse ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Em verdade eu te abençoarei, e multiplicarei a tua posteridade (Gn 22,16s). E Abraão, esperando com paciência, alcançou a realização da promessa. Os homens, com efeito, juram por quem é maior do que eles, e o juramento serve de garantia e põe fim a toda controvérsia. Por isso, querendo Deus mostrar mais seguramente aos herdeiros da promessa a imutabilidade da sua resolução, interpôs o juramento. Por este ato duplamente irrevogável, pelo qual o próprio Deus se proibia de desdizer-se, encontramos motivo de profunda consolação, nós que pusemos nossa perspectiva em alcançar a esperança proposta. Esperança esta que seguramos qual âncora de nossa alma, firme e sólida, e que penetra até além do véu, no santuário onde Jesus entrou por nós como precursor, Pontífice eterno, segundo a ordem de Melquisedec.  

 

Deus nunca esquece um gesto de amor que tenhamos realizado. Prefere esquecer as más obras e, se Lhe pedirmos, as perdoa de bom grado. Isto conta ainda mais quando realizamos boas obras com nosso olhar fixo Nele. Assim, adquirem um brilho maior. Existem muitas passagens na Sagrada Escritura que nos apontam isso (cf. por exemplo Mt 6,3-4); nomeadamente o exemplo de Santa Maria Madalena, que foi perdoada em virtude do seu grande amor ao Senhor (cf. Lc 7,47).  

Portanto, conhecemos o caminho seguro que nos conduz ao objetivo: é o caminho do amor! O Apóstolo assinala que devemos percorrê-lo com fervor, sem vacilar. Não é apenas um caminho para uma etapa da nossa vida, que nos encanta e talvez até nos entusiasme por um tempo, mas que logo vai se perdendo e talvez até não dê em nada… Devemos amar permanentemente; devemos permanecer firmes e crescer neste amor! 

Se percorremos este caminho conscientemente sob a influência da graça, então será fácil, especialmente no início, direcionar nossa vontade para o bem. Fazer o bem é maravilhoso; traz paz à alma, dá conforto e apoio aos outros… Este estado pode durar e nos animar por um bom período. Mas também pode acontecer que, depois de algum tempo, o que antes era fácil para nós se torne mais difícil. Se este for o caso, não devemos abandonar o caminho mesmo se sentirmos que estamos sendo hipócritas por acharmos difícil fazer o bem. Se passarmos por esta etapa, cresceremos no amor e o Senhor nos terá purificado mais profundamente.  

Em que sentido isto seria uma purificação?  

Acontece que ainda podemos ter certas imperfeições em nossa maneira de fazer o bem. A purificação consiste em que devemos aprender a fazer o bem simplesmente em virtude do bem, independentemente de ser fácil ou difícil. Se a satisfação natural que podemos sentir ao fazer o bem ainda é demasiado importante para nós, corremos o risco de recuarmos, por exemplo, ao nos deparar com a ingratidão das pessoas, e talvez até venhamos a nos ressentir e deixemos de fazer o bem.  

Portanto, se certas dificuldades surgem na prática das boas obras, devemos ativar a nossa vontade ainda mais profundamente e nos concentrar mais em Deus do que no próximo ao fazer o bem. Assim, não só faremos o bem ao próximo por causa dele, mas também por causa de Deus. Nada poderá nos impedir de continuar fazendo o bem se agirmos desta forma, mesmo que sejamos recebidos com ingratidão e falta de apreço, ou, no pior dos casos, com ingratidão ou acusações, por exemplo, de não termos feito o suficiente. Desta forma, o Espírito Santo trabalhará ainda mais fortemente em nós e através de nós. A nós deve bastar-nos saber que Deus conhece cada uma de nossas obras. Isso é suficiente! 

Portanto, a purificação faz com que o nosso amor esteja cada vez mais ancorado profundamente em Deus e, como resultado, nossas obras se tornam mais fecundas.  

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