Hb 12, 4-1; 11-15
Irmãos: Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado. Estais esquecidos da palavra de animação que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (Pr 3,11s). Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?
É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz. Levantai, pois, vossas mãos fatigadas e vossos joelhos trêmulos (Is 35,3). Dirigi os vossos passos pelo caminho certo. Os que claudicam tornem ao bom caminho e não se desviem. Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor. Estai alerta para que ninguém deixe passar a graça de Deus, e para que não desponte nenhuma planta amarga, capaz de estragar e contaminar a massa inteira.
Resistir ao pecado até o sangue! Esta é uma alta exigência que só pode ser compreendida se amamos a Deus e aos Seus mandamentos mais do que a nós mesmos.
É o dom do temor de Deus que opera em nós uma rejeição progressiva ao pecado e nos leva a evitar ofender a Deus, nosso Pai a todo custo. Quando o dom do temor de Deus e o dom da fortaleza se tornam eficazes em nós e caminham de mãos dadas à nossa firme determinação de não colocar nada à frente de Deus, então nossa luta contra o pecado chega ao ponto em que não queremos sequer nos aproximar dele em pensamento, e de que estamos dispostos a empreender qualquer esforço para resisti-lo com todas as nossas forças. Esta luta poderia até mesmo nos levar à morte se, por exemplo, fôssemos forçados a negar o Senhor ou cometer outros atos contrários a Ele.
Agora… será que existe alguma ligação entre as exortações para “resistir ao pecado até o sangue” e “não desprezar a correção do Senhor”? Acredito que de fato existe uma relação…
A correção do Senhor tem como finalidade a formação e a educação de Seus filhos, os homens. E isto nos torna mais fortes porque, com frequência, somos muito sensíveis e reagimos ressentidos ou ofendidos ao recebermos uma correção. Mas se ultrapassarmos esta repreensão ela produzirá na alma frutos de justiça e paz, como nos garante o texto bíblico de hoje. Naturalmente estamos nos referindo aqui às correções que vêm diretamente do Senhor ou às que vêm Dele por meio daquelas pessoas que são responsáveis pela nossa formação. Este não seria o momento apropriado para falar sobre como lidar com as correções injustas.
Então, se superamos as primeiras reações que surgem ao sermos corrigidos pelo Senhor – que normalmente são o desânimo, a dor e a tristeza – então nossa alma se une cada vez mais profundamente a Ele. Percebemos que Suas repreensões vêm do Seu amor e que este amor tem várias facetas. De um lado está Seu terno amor, com o qual sempre nos abraça como crianças e do outro lado está Seu amor formativo, que nos faz retomar a direção correta quando nos desviamos, ou quer nos fazer avançar neste caminho. Muitas vezes ficamos presos em nossas próprias ilusões e desejos, de modo que tomamos um rumo errado.
É através de seu amor formativo que o Senhor nos dá um alimento mais sólido, como expressaria o Apóstolo Paulo: Ele não nos dá mais apenas leite, como crianças! (cf. 1 Cor 3,2) Consequentemente, somos fortalecidos em nosso interior. Então o Senhor levará a nossa formação adiante de acordo com a maneira que Ele preparou para nós. Desta forma, cresce em nós a força para resistir às tentações e a tudo o mais que queira nos desviar do caminho, e também para assumir nossa tarefa no combate que nos foi confiado.
E isto, por sua vez, nos tornará mais capazes, com a graça de Deus, de resistir ao pecado até o sangue e de preferir a morte antes que permanecer em pecado grave.
O caminho da santidade torna-se concreto com a formação que Deus nos oferece. Dia após dia somos chamados a crescer no amor e a aprofundar nossa união com o Senhor. Isto significa que devemos cooperar com Sua graça, que não podemos deixá-la passar por imprudência ou descuido, nem permitir que desponte nenhuma planta amarga. Não podemos nunca reduzir a vigilância em nossa caminhada espiritual para não cedermos às inclinações de nossa natureza caída!