Sal 62
Sois vós, ó Senhor, o meu Deus!
Desde a aurora ansioso vos busco!
A minh’alma tem sede de vós,
minha carne também vos deseja.
Como terra sedenta e sem água,
venho, assim, contemplar-vos no templo,
para ver vossa glória e poder.
Vosso amor vale mais do que a vida:
e por isso meus lábios vos louvam.
Quero, pois, vos louvar pela vida,
e elevar para vós minhas mãos!
A minh’alma será saciada,
como em grande banquete de festa;
cantará a alegria em meus lábios,
ao cantar para vós meu louvor!
Penso em vós no meu leito, de noite
nas vigílias suspiro por vós!
Para mim fostes sempre um socorro;
de vossas asas à sombra eu exulto!
Minha alma se agarra em vós;
com poder vossa mão me sustenta.
A alma tem uma sede profunda por Deus, pois Nele está seu verdadeiro lar. Isto ainda é verdade mesmo que o homem não o perceba conscientemente e prenda seu coração às coisas passageiras deste mundo. Então a alma não é apenas desamparada, sem lar; mas ainda cai nas garras de ladrões e salteadores. Ele permanece em uma prisão, não conhece os verdes e exuberantes prados, não sabe onde encontrar seu descanso, e simplesmente vagueia. É um estado desolado, do qual Deus sempre se compadece, pois Ele criou o homem à Sua imagem e nunca o abandona.
No salmo de hoje, ouvimos a voz da alma que despertou para o amor. Ela deseja Deus e o busca, porque sente claramente que, quando Deus lhe falta, é como “terra sedenta e sem água” e não produz fruto algum. Sentindo a aridez interior, ela clama ainda mais a Deus e o procura.
Assim, também nos é mostrado aqui o caminho para escapar da desolação interior que pode afetar muito nossa vida: é o louvor de Deus, que nos eleva até Ele e liberta a alma de seu abatimento.
Ao mergulharmos em Deus, invocar Seu nome e penetrar em Seu amor, nos libertamos de nossas correntes. Agora a alma pode respirar novamente e não murcha. Está cada vez mais desperta e o espírito de entendimento lhe faz saber que “o amor do Senhor vale mais do que a vida”.
De fato, é assim: mais vale ocupar o último lugar no Reino de Deus do que ser alguém no reino das vaidades; melhor morrer na graça de Deus do que passar uma vida longe dele. A alma sabe-o bem, mas é muito facilmente seduzida. Quando se eleva a Deus, ao contrário, fica saciada “como em grande banquete de festa”.
“Alguém entre vós está triste? Reze!” (Tg 5,13) – o Apóstolo Tiago nos aconselha.
É importante não deixar a alma à mercê duma tristeza desordenada, pois este estado de espírito a escurece e a rouba de sua força, tanto natural como espiritual. Os pais do deserto falam de “tristitia”, e até relacionam-na a uma influência demoníaca sobre a alma.
Não devemos dar lugar à preguiça e à tristeza desordenada, ou seja, a tristeza que está presente nos sentimentos, mas que não tem uma razão real. Voltando-se para Deus e invocando concretamente o Espírito Santo, o que nos arrasta para baixo pode ser detido e a alma pode se levantar novamente. Então, experimenta que com poder a mão do Senhor a sustenta.