Hoje, na Festa de Pentecostes, celebramos a descida do Espírito Santo.
Que mudança extraordinária vemos nos apóstolos! Eles, que eram pusilânimes e temerosos, tornam-se, graças à presença do Espírito Santo, potentes mensageiros do amor de Deus; e proclamam valentemente o Evangelho. O grande milagre de que cada um dos ouvintes – vindos dos mais diversos cantos do mundo – podiam compreender a mensagem dos apóstolos em sua própria língua (cf. At 2,6) foi um sinal para o futuro. Foi como se por um momento a confusão das línguas tivesse sido abolida, a fim de que, ao proclamar dos apóstolos as maravilhas de Deus, todas as pessoas pudessem ouvi-las.
Vemos, então, que o Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho para a evangelização; para levar adiante a obra do Senhor, iluminando, fortalecendo e movendo a Igreja, que havia recebido do Ressuscitado a missão de ir ao mundo inteiro e anunciar a Boa Nova (Mt 28,19-20). Portanto, o Espírito Santo é o grande evangelizador.
Mas, ao mesmo tempo, Ele é também o Mestre de nossa vida interior. Ele nos leva à conversão e nos faz avançar neste caminho, para que nosso coração seja transformado. O Espírito Santo quer moldar nossas almas à imagem de Deus. Para este fim, Ele nos convida e nos move a praticar as virtudes, e sempre que nos esbarramos com as limitações de nossa natureza caída, Ele mesmo vem em nosso auxílio com seus sete dons, que “completam e levam à perfeição as virtudes” e “tornam os fiéis dóceis, na obediência pronta, às inspirações divinas” (Catecismo da Igreja Católica, 1831).
Portanto, queremos meditar sobre cada um destes sete dons do Espírito Santo durante a Oitava de Pentecostes, para entender como eles vão transformando nossa alma. Hoje começamos com o dom do temor de Deus.
“O temor do Senhor é o começo da sabedoria; sábios são aqueles que o adoram.” (Sal 110,10a)
O espírito do temor de Deus desperta uma profunda aversão ao pecado na alma da pessoa que vive no estado de graça. Assim, ela reconhece claramente seu poder destrutivo e está bem ciente de que, pelo pecado, a majestade e o amor de Deus são ofendidos.
Esta é uma das primeiras lições que o Espírito Santo dá às almas que aspiram sinceramente à santidade, pois Ele quer prepará-las para percorrer o caminho da unificação com Deus.
Quando o dom do temor trabalha numa alma, ela já despertou para o amor. Ela entende claramente que somente o pecado pode separá-la de Deus. Ela reconhece o Senhor como um Pai amoroso e, portanto, tem para com Ele o respeito de uma criança para com seu pai. Ela não quer fazer nada que pudesse separá-la do amor de Deus ou ofendê-Lo. Assim, busca viver com grande vigilância.
Em seu esforço para evitar tudo aquilo que pudesse afetar sua relação com Deus, a alma não é movida por um temor servil, que teme punição acima de tudo. Ao contrário, o espírito do temor de Deus infunde nele uma crescente sensibilidade e delicadeza para com Deus. Se ela seguir suas moções, será conduzida a uma entrega cada vez mais generosa ao Senhor.
A alma reconhece, por um lado, a imensurável grandeza de Deus e, por outro lado, Sua infinita misericórdia. Esta dupla compreensão faz amadurecer na alma o dom do temor, que se desdobra harmoniosamente na vida espiritual. A justa reverência perante Deus, de mãos dadas com amor por Ele, torna a alma cada vez mais receptiva à presença de Deus.
A reverência – a admiração diante da santidade de Deus – evitará qualquer excessiva familiaridade no trato com Ele. Ao mesmo tempo, a verdadeira familiaridade com nosso Pai Celestial nos impedirá de ter uma grande distância em nossa relação com Ele, o que poderia tornar a vida espiritual árida.
Quando o dom do temor de Deus se desdobrar em nós, também apreciaremos mais profundamente todos os outros dons que Ele nos concede para nossa salvação: a grandeza do sacrifício de Jesus Cristo, as Sagradas Escrituras, a doutrina autêntica da Igreja, os santos sacramentos, entre tantas outras coisas que o Senhor tem preparadas para nós.
Sob a influência do espírito do temor, seremos capazes de contrariar mais facilmente o que não corresponde à reverência ao sagrado. Estaremos mais atentos ao que dizemos e mudará a maneira de tratar às outras pessoas. De fato, o mesmo Espírito que nos move a tratar a Deus com a devida reverência e amor, nos ensinará a agir da mesma forma para com as pessoas, criadas à Sua imagem e semelhança.
Quando o dom do temor age em nossa alma, o amor – que é o próprio Espírito Santo – toma as rédeas de nossa vida. Se seguirmos suas moções e impulsos, seremos capazes de superar cada vez mais nossas deficiências e tudo o que nos impede de praticar a virtude. Quanto mais dóceis e sensíveis formos ao Espírito Santo, mais facilmente poderemos nos deixar mover por Ele, que também nos dará a força para colocar em prática o que Ele nos indicar.
Desta forma, o Espírito Santo se torna nosso Mestre interior, que nos guia no caminho da santidade. Teremos iniciado o caminho da sabedoria de Deus, e Ele mesmo levará Sua obra em nós à plenitude, desde que permaneçamos fiéis ao sendeiro que Ele nos mostrou.