1 Re 17,10-16
Naqueles dias, Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: “Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber”. Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: “Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão”. Ela respondeu: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra.
Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. Elias replicou-lhe: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho, e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até ao dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra'”. A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.
Nos tempos do Antigo Testamento, os profetas eram de suma importância. Deus estava presente neles e ouvir suas orientações significava obedecer à vontade do Senhor. Conhecemos as lamentações de Jesus sobre o fato de Israel não ter dado ouvidos a seus profetas (cf. Mt 23,37), que os advertiam de seus erros, lembravam-nos dos direitos de Deus e apontavam abertamente as transgressões do povo. Essas advertências sempre visavam à salvação das almas, para que elas não se desviassem, não se afastassem de Deus e não caíssem sob a influência dos inimigos.
A leitura de hoje nos mostra, com um exemplo comovente, o que acontece quando alguém dá ouvidos aos profetas. O ato decisivo que trouxe bênção permanente à casa da viúva é expresso nesta frase: “Ela foi e fez como Elias lhe havia dito”.
A viúva confiou no Profeta Elias em meio a uma situação muito difícil. Evidentemente, sua pobreza era tanta que ela acreditava que ela e seu filho teriam de morrer de fome. Humanamente falando, teria sido compreensível se, por medo da morte dela e de seu filho, ela tivesse se recusado a atender ao pedido de Elias e implorado a ele sobre sua situação desesperadora. Mas ela não fez isso, simplesmente seguiu as instruções do profeta. Assim, a promessa do Senhor foi cumprida: “A vasilha de farinha não se acabou, nem o frasco de azeite se esvaziou, conforme a palavra que o Senhor falou pela boca de Elias”.
Essa história nos traz à mente outra passagem bem conhecida do Antigo Testamento. Lembramos do sírio Naamã que, seguindo o conselho de sua serva, partiu para Israel a fim de procurar o profeta Eliseu e ser curado de sua lepra (2 Reis 5). Quando chegou em casa, Eliseu simplesmente enviou um mensageiro para lhe dizer que ele deveria se lavar sete vezes no rio Jordão. Naamã ficou indignado, pois imaginava que a cura milagrosa aconteceria de outra forma. A princípio, ele se recusou a seguir as instruções do profeta, mas seus servos o incentivaram a obedecer à sua palavra. Então Naamã fez o que Eliseu havia dito e foi purificado de sua lepra.
Nessa história, também, foi o fato de ouvir o profeta que foi decisivo, mesmo que, no caso de Naamã, as instruções que ele lhe deu para a cura inicialmente parecessem absurdas. Afinal, ele era um profeta, que – se for verdadeiro – age e fala em nome de Deus. Portanto, ao seguir seu conselho, a pessoa está obedecendo ao próprio Senhor.
No caso da viúva de Sarepta, há ainda outro ponto a ser ponderado cuidadosamente. Elias queria que o primeiro bocado fosse para ele: “Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho, e traze-o”. Como o profeta representa Deus, esse pedido nos ensina que devemos sempre pensar em Deus primeiro, porque tudo vem Dele.
Essa é uma mensagem muito importante, na qual as Escrituras Sagradas insistem repetidamente: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). Todo pai espiritual também nos aconselharia a orientar tudo em nossa vida para Deus. Esse é o caso, por exemplo, quando dedicamos a primeira parte do dia a Ele, antes de entrarmos no curso natural do dia.
Por que isso é tão importante? Há muitos motivos. Nós, homens, somos esquecidos e, por isso, muitas vezes deixamos de dar graças a Deus. Portanto, temos de nos lembrar conscientemente, repetidas vezes, o que significa: “Deus em primeiro lugar”.
Mas o motivo mais profundo é que, dessa forma, entramos na ordem estabelecida por Deus: tudo procede Dele. Se em tudo o que fizermos nos voltarmos primeiro para Ele, então entraremos nessa ordem maravilhosa e participaremos conscientemente dela. Isso também acontece quando, no final do dia, voltamos a Deus e apresentamos a Ele todo o nosso dia. De certa forma, é isso que os monges fazem no final do dia com a oração litúrgica das Completas.
Portanto, podemos tirar duas lições da leitura de hoje: 1) Devemos obedecer aos verdadeiros profetas; 2) Devemos dar a Deus o primeiro lugar em tudo.