O primeiro amor de Deus

Rom 11,13-15.29-32 

OBS: Celebramos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora com as 

meditações dos dias 13, 14 e 15 de agosto 

E a vós, nações, eu digo: enquanto apóstolo das nações, eu honro o meu ministério, na esperança de provocar o ciúme dos de meu sangue e de salvar alguns deles. Pois se sua rejeição resultou na reconciliação do mundo, o que será seu acolhimento senão a vida que vem dos mortos? Porque os dons e o chamado de Deus são sem arrependimento. Com efeito, como vós outrora fostes desobedientes a Deus e agora obtivestes misericórdia, graças à desobediência deles, assim também eles agora são desobedientes graças à misericórdia exercida para convosco, a fim de que eles também obtenham misericórdia no tempo presente. Deus encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia. 

 

Mais uma vez encontramos a preocupação de São Paulo com seu povo e sua esperança de que Israel encontre a fé em Cristo. Ele quer despertar o ciúme em sua própria raça para que reconheçam que Deus voltou seu amor para os gentios, e assim salvar pelo menos alguns deles. 

Certamente Deus não abandonou seu povo, mas não souberam aceitar as graças que lhes haviam sido preparadas com a vinda de Jesus – não reconheceram o “tempo em que foram visitados” (cf. Lc 19,44). 

Paulo sabe bem o que isso significa, pois ele mesmo foi tocado pela graça de Jesus, e a partir daquele momento seu coração ardeu por Ele. O que pode fazer agora por seu povo? No domingo anterior o ouvimos dizer que ele mesmo quisera estar separado de Cristo para ganhar seus irmãos para Cristo (cf. Rm 9,3).  

São Paulo está profundamente consciente do valor da vocação que lhe foi dirigida ao povo judeu, porque “os dons e o chamado de Deus são sem arrependimento”, como diz na leitura de hoje. 

Israel sempre carrega este selo de Deus, assim como um sacerdote, por exemplo, também tem um selo indelével impresso em sua alma, mesmo se ele for infiel à sua vocação.  

O que acontecerá então com os judeus, os primeiros que foram chamados por Deus? Por qual caminho Ele os conduzirá? Ainda podemos esperar uma grande onda de conversões? Reconhecerão Aquele a quem traspassaram (cf. Zc 12,10)? E o que isso significaria para a Igreja e para toda a humanidade? 

Conhecemos o testemunho pessoal de alguns judeus que contam como encontraram Jesus. Nosso amigo Roy Schoeman, um judeu convertido ao catolicismo, compilou em um livro de sua autoria os testemunhos de dezesseis judeus que encontraram o caminho a Jesus e à Igreja. Muitas vezes os caminhos que Deus escolheu para tocá-los são extraordinários e comoventes. É comum ouvi-los dizer que quando encontraram o Senhor e a Igreja e perceberam que a sua fé judaica chegou à sua plenitude nesse encontro, foi para eles como “voltar a casa”. 

Por exemplo, perguntaram a Israel Zolli, um rabino conhecido que virou católico, por que deixara a sinagoga em troca da igreja, ao que respondeu: 

Mas eu não a deixei. O cristianismo é a integração, o ponto culminante e a coroa da sinagoga. A sinagoga era uma promessa e o cristianismo é o cumprimento dessa promessa. A sinagoga apontava para o cristianismo; o cristianismo pressupõe a sinagoga. Assim você pode ver que um não pode existir sem o outro. Eu me converti ao cristianismo vivo“. 

Testemunhos como este nos mostram a coerência interior no caminho que Deus percorreu com seu povo Israel até a vinda do Messias, e como esse povo permanece ligado à promessa de Deus ao reconhecer este Messias. Com efeito, Jesus e os apóstolos se dirigiram primeiro aos filhos de Israel antes de pregar aos gentios (cf. Mt 15,24). Deus soube como integrar em seu plano de salvação até mesmo a recusa da maioria dos judeus em aceitar Jesus como seu Messias, para chamar primeiro todos os povos pagãos à fé. 

Será que isso desperta ciúmes no povo judeu? Às vezes me pergunto quando estou em Israel, o que os judeus pensam ao ver a quantidade de pessoas que chegam do mundo inteiro para adorar Aquele que eles rejeitaram? Em todo caso, estão até proporcionando proteção a alguns dos lugares sagrados do cristianismo… Qual é o plano oculto de Deus que se pode perceber por trás disso? 

Deus quer ter misericórdia de todos, como nos diz o apóstolo. Com a readmissão de Israel, uma grande graça nos espera quando Deus puder estreitar o seu “filho primogênito” em seus braços de novo. 

Para concluir esta meditação, ouçamos algumas palavras do testemunho do judeu Charlie Rich, que encontrou o caminho de casa na Igreja Católica. Charlie entrou em uma igreja vazia e enquanto estava sentado ali disse a si mesmo: 

Se ao menos eu pudesse crer com a mesma certeza dos que creem e vêm aqui para orar. Se eu ao menos pudesse acreditar que as palavras do evangelho são realmente verdadeiras, que Jesus realmente existiu e que estas palavras são exatamente as que Ele mesmo disse com sua boca humana… Ah! Se tão somente isso fosse um fato; se ao menos eu pudesse acreditar que é um fato, o quão glorioso, maravilhoso e consolador isso seria; como eu ficaria feliz em saber que Cristo foi realmente divino, que de fato era o próprio Filho de Deus que desceu do céu para nos salvar! Poderia ser possível que aquilo que me parecia tão maravilhoso fosse verdade, que não fosse uma farsa, uma mentira? De repente, algo brilhou em meu espírito e ouvi as seguintes palavras: ‘É claro que é verdade: Cristo é Deus, Ele é Deus que se fez visível em carne humana. As palavras do evangelho são verdadeiras, literalmente verdadeiras’“. 

Esta foi a graça que dali para a frente fez Charlie Rich feliz e mudou a sua vida. Que muitos de seu povo o sigam! 

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