At 4,32-38
A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. Com grandes sinais de poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E os fiéis eram estimados por todos.
Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas, vendiam-nas, levavam o dinheiro, e o colocavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um. José, chamado pelos apóstolos de Barnabé, que significa filho da consolação, levita e natural de Chipre, possuía um campo. Vendeu e foi depositar o dinheiro aos pés dos apóstolos.
A leitura de hoje nos mostra uma realidade maravilhosa trabalhada pelo Espírito Santo. Os fiéis da nova comunidade cristã eram “um só coração e uma só alma”. Isto significa que estavam tão unidos no amor a Deus e no amor mútuo, que formavam uma comunhão profunda no Espírito, uma unidade que só podia vir de Deus. Trata-se de uma comunidade que não nasceu dos laços de sangue, mas de uma escuta, em comum, da vontade de Deus, do reconhecimento de Jesus como Filho de Deus e da prontidão para fazer a Sua vontade. Assim, a unidade que existe entre as três Pessoas divinas também se estende aos fiéis, sobre os quais a graça é derramada em abundância. Se olharmos para a primeira comunidade cristã podemos ter uma pequena ideia dessa comunhão que alcançará a sua perfeição no céu, quando Deus, anjos e homens formarão uma unidade indestrutível no amor, na qual cada um serve ao outro com alegria, transmitindo-lhes tudo o que sabem sobre Deus.
O amor a Deus e o amor mútuo os moveu a compartilharem tudo o que tinham, fazendo com que a maravilhosa obra do Espírito Santo resplandecesse. No entanto, a partilha era totalmente voluntária, diferindo de todas as tentativas posteriores de criar uma equidade artificial entre os homens, que muitas vezes resultaram em grandes injustiças, como foi o caso, por exemplo, do comunismo. Se pegarmos uma ideia que originalmente é inspirada pelo Espírito Santo, retirá-la do seu contexto divino e convertê-la em uma ideologia, então ela acabará sendo distorcida e transformada no seu oposto. Carecerá precisamente do amor divino, que é a força que a sustenta. Este amor não pode ser substituído por uma mera vontade humana, mesmo que seja direcionada para o bem. Esta forma de proceder repetiu-se uma e outra vez ao longo da história humana. Se aquilo que é originalmente inspirado pelo Espírito Santo não é acompanhado da busca pela santidade, então o homem acaba cedendo às más inclinações da sua natureza e, a longo prazo, não consegue responder às exigências de um modo de vida tão sublime.
A leitura de hoje nos apresenta uma nova forma de justiça que surgiu na comunidade cristã primitiva. Já não se colocava mais em primeiro lugar a segurança nos bens próprios, mas o olhar estava sobre todos e em cada um de seus membros. Cada um recebia conforme as suas necessidades, e a simplicidade cristã tornou esse modo de vida ainda mais radiante! Como a comunidade era de um só coração e uma só alma, podia reconhecer que as necessidades não eram as mesmas para cada indivíduo, e que esta diferença não vinha do egoísmo, mas das diferentes circunstâncias de vida.
Que grande obra do Espírito Santo!
Ao longo da história do cristianismo, este modo de vida tem sido imitado repetidas vezes, especialmente nas comunidades religiosas e monásticas. Isto ainda acontece hoje, mesmo em algumas comunidades mais recentes. Nem sempre é fácil corresponder a estes altos padrões, porque a natureza humana muitas vezes busca segurança nos bens materiais. É por isso que a busca da santidade deve ser a base para conter as inclinações de nossa natureza. Mas a propriedade comunitária, quando é voluntária e movida pelo amor, continua irradiando até os dias de hoje a luz que brilhou na comunidade cristã primitiva.
Em meio a este novo modo de vida da família espiritual que surgiu, os apóstolos proclamavam a Ressurreição do Senhor com poder. Não é de se surpreender que tantas pessoas estavam atraídas pelo seu testemunho. De um lado escutavam a palavra dos apóstolos cheia de autoridade, proclamada com o poder do Espírito Santo, do outro lado viam o exemplo da vida cristã em todo esplendor do primeiro amor. Neste caso existia uma total coerência entre a palavra e o testemunho de vida.
O exemplo da comunidade primitiva como um fruto do Espírito Santo continua agindo de diversas maneiras até os dias de hoje. Ali, onde a comunidade cristã tem os seus olhos e o seu coração abertos, tanto às necessidades dos pobres em seu meio, como às necessidades da humanidade como um todo… ali o Espírito Santo pode agir, convidando-nos a compartilhar. Se isto acontecer, então o espírito da primeira comunidade cristã ainda está vivo e sempre suscitará novos exemplos nos quais essa partilha voluntária de bens é realizada.