O CAMINHO DO ADVENTO | Dia 10: “A Palavra de Deus”

A interiorização da nossa fé é um dos elementos decisivos para que a graça de Deus se manifeste abundantemente na nossa vida.

A fé deve ser interiorizada para não se limitar a gestos e atos externos — sem diminuir a importância e o valor destes últimos — e para estar profundamente enraizada no nosso coração. É assim que se forja uma rica vida interior em união com Deus, uma vida interior que está sempre presente e que cresce continuamente.

Deus oferece-nos diversas formas de interiorização.

Em primeiro lugar, trata-se de assimilar mais profundamente a Palavra de Deus. A respeito de Maria, a Escritura diz que ela meditava na Palavra no seu coração (cf. Lc 2, 19). Para isso, devemos ler diariamente a Palavra de Deus. Ela é o nosso alimento espiritual, que esclarece a compreensão e ilumina o coração (Sl 119, 105).

A Palavra do Senhor é uma luz sobrenatural que provém diretamente Dele e que deseja penetrar em nós para dar fruto. Esta luz também atinge a nossa compreensão natural, que, no que diz respeito às coisas de Deus, depende necessariamente da luz sobrenatural. Se o entendimento se abrir, produz-se uma maravilhosa união entre a sabedoria divina e a razão natural, que também vem de Deus, mas que ficou obscurecida pelo pecado original.

A nossa alma regozija-se com a verdade, porque a sua dignidade e beleza só se podem manifestar em conformidade com ela. Também conhecemos o aviso da Sagrada Escritura de que a Palavra pode cair em solo infértil, de que o diabo tenta roubá-la, de que as suas raízes podem não ser suficientemente profundas, de que ela pode ser sufocada pelas perseguições por causa da Palavra e pelas preocupações da vida quotidiana (cf. Mt 13, 3-8.18-23).

Por isso, é necessário ouvi-la e lê-la repetidamente, mesmo que pensemos conhecer muito bem certos trechos da Sagrada Escritura. Por ser a Palavra de Deus, tem a força de penetrar cada vez mais profundamente em nós e de nos iluminar, para a compreendermos melhor.

Nesse sentido, é importante compreender que devemos aprender a interpretar a realidade à luz da Palavra de Deus. Na verdade, não se trata de uma palavra meramente humana que procura compreender e descrever a realidade.

Tomemos como exemplo um excerto do Salmo 89 (vv. 22, 25 e 27), que diz o seguinte:

 

“A minha mão o tornará forte,

o meu braço o tornará forte.

A minha lealdade e o meu amor acompanharão o rei.

No meu nome, ele se tornará poderoso.

Ele invocará: ‘Meu Pai,

o meu Deus, a minha Rocha salvadora!”

 

Podemos ler este texto, regozijar-nos por um momento com as promessas que Deus dirige ao rei Davi e, depois, perder-nos nas nossas tarefas diárias. No entanto, se o fizermos, a Palavra não nos dará a segurança, a confiança e a proximidade que nos oferece. Se chegar uma “tempestade” (cf. Mt 7, 26-27), não teremos estas palavras suficientemente presentes, porque não terão penetrado suficientemente na nossa alma.

É diferente quando, como fez a nossa Mãe Maria, fazemos a Palavra viver no nosso coração; ou seja, meditamos, oramos com ela, entramos em diálogo com Deus, etc. Assim, nasce em nós a santa certeza de que Deus nos sustenta e fortalece sempre, por maior que seja a tribulação. Não acreditaremos apenas porque a ouvimos, mas a Palavra moldará o nosso interior. Assim, quando nos sobrevierem necessidades e situações que pareçam não ter saída, apegar-nos-emos à Palavra e não nos deixaremos levar pela correnteza; saberemos e experimentaremos que Deus, na sua fidelidade, nos acompanha (cf. Mt 7, 24-25). E, tal como Davi, de quem se fala neste salmo, poderemos exclamar: “Meu Pai, meu Deus, minha Rocha salvadora!”.

É precisamente esta última frase que nos leva a uma maior profundidade: é o amor do nosso Pai divino que nos envolve; um Pai que está sempre presente e acompanha todas as situações da nossa vida. Assim, a alma desperta ao interiorizar a Palavra de Deus e esta Palavra — e, portanto, o próprio Senhor — habita em nós.

 

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 Meditação sobre a leitura do dia: https://es.elijamission.net/el-pastor-reune-a-las-ovejas-2/

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