Também faz parte de nossa jornada quaresmal olhar cuidadosamente os tempos difíceis em que nos encontramos, que – como tenho dito repetidamente – considero de caráter apocalíptico. Embora não devamos nos sentir intimidados por sua ameaça, tampouco podemos fechar os olhos para os acontecimentos que estão se desenrolando ao nosso redor.
Antes do retorno de Cristo, temos que contar com o advento do Anticristo, que, pervertendo a realeza do Senhor, vai querer estabelecer um domínio global.
Em setembro de 2020, escrevi uma série de nove meditações sobre o tema do Anticristo. Por causa da atualidade deste tema, acho importante tratá-lo de forma resumida no contexto de nosso itinerário em preparação para a Páscoa.
Devemos estar espiritualmente armados, a fim de lidar corretamente tanto com os inimigos de fora como os de dentro, e até mesmo com aqueles que atuam dentro da Igreja.
Do meu ponto de vista, o Anticristo que chegará no fim dos tempos, ou um de seus precursores imediatos, ainda não se manifestou visivelmente, embora haja muitas figuras públicas que representam o espírito anticristão.
O advento do Anticristo é fundado nas Escrituras, exposto no Catecismo da Igreja, mencionado pelos Padres da Igreja e tematizado em vários livros. Portanto, não é um assunto secundário falar do Anticristo, embora certamente deva ser feito da forma mais sóbria possível.
São Cirilo de Jerusalém, disse:
“Portanto, prepara-te, ó homem”. Se conheces os sinais do Anticristo, não só deves tê-los em tua memória, mas também compartilhá-los com aqueles ao teu redor. Se tens um filho após a carne, não hesites em instruí-lo. Se és um mestre, prepara teus filhos espirituais, para que não tomem o falso pelo verdadeiro, pois este mistério já está em ação.”
Falar do Anticristo não é fácil, pois nesta figura o “mistério da iniquidade” (cf. 2Ts 2,7) será plenamente manifestado. Portanto, o Anticristo será uma ameaça para o mundo inteiro. Entretanto, a complexidade do assunto não pode ser um pretexto para calar, especialmente em um momento em que as ameaças anti-cristãs são evidentes, mesmo que muitos não as identifiquem e rejeitem como tais, de forma que os fiéis podem ser confundidos.
A vigilância é necessária! Em primeira instância são os cristãos que, conhecendo a voz de seu Pastor, devem ser capazes de discernir o que vem de seu Senhor e o que não vem d’Ele. Mas evidentemente esta diferenciação nem sempre é tão simples, pois Satanás pode se apresentar disfarçado de anjo de luz (cf. 2 Cor 11,14). Portanto, precisamos do espírito de discernimento para identificá-lo e desmascará-lo claramente. Como católicos, esperamos que a Igreja seja capaz de nos advertir em tempo oportuno sobre os perigos. Mas também aqui não podemos nos sentir seguros demais, pois mesmo os pastores da Igreja podem errar e não medir e identificar os perigos da sutil sedução anti-cristã.
Em tempos de crescente domínio anticristão, os cristãos devem contar com a perseguição, que se agravaria consideravelmente a partir do momento em que o Anticristo assumisse concretamente o domínio. O combate espiritual entre a luz e as trevas se intensificaria ainda mais.
Não há incerteza quanto ao resultado desta batalha, pois a vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo é segura. No final dos tempos, o Diabo – que é o “senhor” do Anticristo – será lançado no lago de fogo e enxofre, onde também a Besta e o Falso Profeta serão lançados (cf. Ap 20,9-10). Nós, de nossa parte, somos chamados a nos alistar no “exército do Cordeiro” para este combate espiritual, tomando nosso lugar, e a não nos rendermos indefesos à escuridão crescente.
Este é um chamado sério dirigido a nós. Se nos encontramos em tempos apocalípticos, o “caso de emergência” no seguimento de Cristo é ativado, e devemos viver nossa fé ainda mais intensamente. Deus pode usar a ameaça anticristã para nos despertar de toda letargia espiritual e falsa segurança, para que nos confiemos completamente ao Senhor.