Segundo o calendário tradicional, hoje se comemora os mártires Cosme e Damião e por isso meditaremos na leitura correspondente a este Memorial.
Sab 5,15-20
Mas os justos viverão eternamente; sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo cuidará deles. Por isso, receberão a régia coroa de glória, e o diadema da beleza da mão do Senhor, porque os cobrirá com sua direita, e os protegerá com seu braço. Por armadura tomará seu zelo cioso, e armará as criaturas para se vingar de seus inimigos. Tomará por couraça a justiça, e por capacete a integridade no julgamento. Ele se cobrirá com a santidade, como com um impenetrável escudo, afiará o gume de sua ira para lhe servir de espada, e o mundo se reunirá a ele na luta contra os insensatos.
Ao falar de “justos”, a Sagrada Escritura se refere àquelas pessoas que se esforçam com seriedade para cumprir a vontade de Deus. Os justos receberão sua recompensa e o Senhor lhes dará tudo o que preparou para eles.
“A vida do justo está nas mãos de Deus”, diz o Livro da Sabedoria em outra passagem (3,1), e o texto de hoje nos assegura que a direita do Senhor os protege e os defende. As promessas de Deus são verdadeiras e irrevogáveis! Elas se mantêm em todas as circunstâncias, especialmente quando os justos (em terminologia cristã diríamos: “os fiéis”) estão em perigo.
É importante compreender estas palavras em toda a sua profundidade, de maneira que não se refiram em princípio à proteção da vida corporal, como se os justos estivessem isentos de todos os perigos e males que nos assolam neste mundo. Ao contrário, elas se aplicam à dimensão mais profunda da vida, especialmente a sua dimensão transcendental. O Senhor quer estar próximo dos Seus por toda a eternidade e quer recompensá-los por sua fidelidade. Ele lhes promete que alcançarão a vida eterna sob a Sua proteção, e que não se perderão – não importa o que aconteça. Cabe aos fiéis, por sua vez, perseverar na graça de Deus e seguir as orientações do Espírito Santo.
As palavras que seguem na leitura de hoje trazem à mente a “armadura espiritual” descrita na Carta aos Efésios (6,11-18). Os fiéis devem se proteger contra as tentações deste mundo, contra as artimanhas do diabo e contra a própria carne, quando esta quer se rebelar contra o espírito (Rm 7,26). Mas não estão sozinhos em sua luta! Se assim fosse, seria impossível saírem vitoriosos….
O próprio Senhor coloca “a armadura de seu zelo” pelas almas. Se serve dos poderes de Sua criação contra o inimigo. Ele, o Santo e Justo, sabe usar as palavras de Sua boca como uma espada, separando a verdade da falsidade e colocando os poderes hostis a Deus em seu devido lugar.
Mas o Senhor convida os Seus a lutarem ao Seu lado nesta grande batalha, a se alistarem no “exército do Cordeiro” para a luta contra os “insensatos”, como diz a leitura. Estes insensatos são aqueles que, em sua cegueira, se rebelam contra Deus. Antes de tudo, são os anjos decaídos. O Senhor os enviará ao seu destino eterno.
Mas há também aqueles que foram seduzidos pelo espírito do mal, que vivem na ignorância involuntária e que ainda não conhecem a luz da fé. Por mais que pareça que nossos esforços sejam em vão, não devemos desistir de lutar pelas almas, mesmo as mais teimosas, desde que haja a possibilidade de conversão.
Uma arma fundamental nesta luta é a proclamação do Evangelho, como nos diz São Paulo: “Permanecei firmes (…), permanecendo firmes com zelo pelo Evangelho da paz” (Ef 6,14-15). Através da proclamação da morte e ressurreição de Cristo, temos que tirar das trevas suas presas. Neste confronto, a Virgem Maria está encarregada de esmagar a cabeça da serpente (cf. Gn 3,15). Com a armadura do Senhor, os fiéis estão bem equipados.