NOTA: Hoje vamos ouvir e meditar o Evangelho da memória de Santa Luzia, seguindo o calendário tradicional. Para quem quiser saber mais sobre a história da santa de hoje, recomendamos a escuta desta meditação: https://es.elijamission.net/santa-lucia-portadora-de-luz-2/
Mt 13, 44-46
Naquele tempo Jesus contou esta parábola: “O Reino dos Céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.”
Homens e mulheres que agiram com base nestas palavras do Senhor, nos são apresentados como modelos de santidade com justa razão.
“Arriscar até a última carta” – diz-se ao fazer-se alusão ao jogo, mas referindo-se em sentido figurativo a alguém que está disposto a arriscar tudo. Quantas pessoas acabaram ficando profundamente desapontadas ao assumir riscos nas coisas deste mundo, que no fim das contas não cumprem suas promessas de felicidade! Quantas vezes colocamos nossa esperança em uma determinada pessoa e depois, como ninguém é perfeito, ficamos decepcionados porque ela não correspondeu às nossas expectativas!
Em contrapartida, não é assim com o Reino de Deus: o tesouro encontrado no campo é o próprio Deus! Encontrá-lo significa possuir tudo! Nele não há fraudes, por isso nunca ficaremos desapontados. Após encontrá-lo podemos, sem medo de errar, corresponder ao anseio mais profundo do coração de nos entregarmos sem limites a alguém que é Absoluto.
De fato, é Deus quem desperta este desejo em nós, chamando-nos a nos abandonar completamente a Ele. Os discípulos do Senhor responderam a este chamado, o jovem rico, por outro lado, enquanto levava uma boa vida em obediência aos mandamentos de Deus, não foi capaz de dar o passo que o Senhor o convidava a dar: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu.” (Mt 19,21a). Este jovem possuía um tesouro à parte de Deus, de modo que sua doação não pôde ser total: era a sua riqueza à qual seu coração estava apegado.
Deus é o único que pode corresponder ao nosso desejo pela verdade e amor absolutos, pois Ele mesmo o semeou em nossa alma. Por isso, como dizia Santo Agostinho, “nosso coração está inquieto até que descanse em Deus”.
O mundo de hoje nos oferece tantos prazeres como substitutos, distraindo o homem em sua busca do verdadeiro, do essencial, do imutável. Nos tempos modernos, nos quais o relativismo proliferou, a questão da verdade única absoluta é cada vez mais oprimida. Em vez dela, são apresentadas meias verdades que jamais poderão saciar a sede do homem pela verdade. Dizem-lhe que deve aproveitar sua vida sem se questionar sobre o sentido mais profundo de sua existência. Na verdade, as alegrias da vida lhes são apresentadas como sendo o objetivo da mesma. Veja aqui como se expressava uma propaganda ateia na Europa: “Deus provavelmente não existe, pare de se preocupar e aproveite a vida”.
Talvez seja precisamente por isso que o Senhor permite que as nossas expectativas e objetivos terrenos às vezes não se cumpram, e que experimentemos como não podem nos dar a paz verdadeira. Deus permite que sintamos o vazio interior que resulta de uma vida que não está focada Nele, lembrando-nos, assim, que quando o homem se afasta de Deus, ele retorna cada vez mais para o nada do qual brotou.
Chegando a este ponto, as palavras do Evangelho de hoje podem nos tocar profundamente. É possível deixar tudo para trás para encontrar o que realmente importa, isto é, o amor infinito de Deus. Nele encontramos nosso lar mais profundo! São Paulo considerava tudo como lixo “diante do bem supremo que é o conhecimento de Cristo Jesus” (cf. Fil 3,8) e o livro do Eclesiastes nos diz que tudo é “vaidade das vaidades” (cf. Ecl 1,1) e que apenas “o que Deus faz dura para sempre” (Ecl 3,14).
É no verdadeiro encontro com Deus que tudo se transforma e tudo ocupa o lugar que lhe é devido. É a partir desta perspectiva que podemos entender o Evangelho de hoje. Considerando o amor infinito de Deus, que merece o primeiro lugar em nossa vida, tudo o mais deve estar subordinado a ele. Quem poderia colocar um amor temporário e imperfeito diante do amor infinito e absoluto de Deus? Só um tolo o faria!
Pode ser uma insensatez para o mundo abandonarmos tudo por causa de Deus, para viver plenamente em seu amor, mas aos olhos de Deus esta é a grande sabedoria e o sentido verdadeiro da nossa existência. Na verdade, o que levaremos conosco quando chegar a hora da nossa morte?
Sendo assim, a palavra do Senhor que ouvimos hoje é um convite maravilhoso para nos abandonarmos totalmente ao seu amor. Podemos contar com este amor sempre e com toda confiança, desde que não fechemos nossos corações, tirando de Deus a possibilidade de nos fazer senti-lo. Vale a pena deixar tudo para trás por causa deste amor! Fomos criados para ele!