Suportar e perdoar uns aos outros

No calendário tradicional, hoje é a Festa da Sagrada Família. Portanto, nossa meditação de hoje será baseada na leitura dessa festa. Se algum de nossos ouvintes quiser ouvir uma meditação para a Festa do Batismo do Senhor, seguindo o novo calendário litúrgico, pode encontrá-la no link a seguir: http://br.elijamission.net/o-batismo-do-senhor/#more-10232

Col 3,12-17 

Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e diletos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de benignidade, humildade, modéstia e paciência. Suportai-vos uns aos outros, e perdoai-vos mutuamente, se um tiver motivo de queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim fazei também vós. Acima de tudo isso, tende caridade que é o vínculo da perfeição. Triunfe em vossos corações a paz do Cristo, para a qual também fostes chamados num só Corpo; e sede agradecidos. A palavra do Cristo habite em vós com abundância, com toda a sabedoria; instruí-vos e exortai-vos, uns aos outros. Cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus, com a gratidão em vossos corações. Tudo quanto fizerdes por palavra ou por obra, seja tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, rendendo graças por Ele a Deus Pai. 

 

Esta leitura para a Festa da Sagrada Família está repleta de sábias exortações e instruções do Apóstolo dos Gentios. Quase todas as frases merecem sua própria reflexão para nos ajudar a levar uma vida verdadeiramente cristã à imitação de Cristo. O Apóstolo quer conduzir o rebanho que lhe foi confiado pelo caminho da santidade, pois somente assim a vida cristã brilhará com o esplendor da bondade divina e se tornará uma grande luz neste mundo.

Vejamos, em primeiro lugar, a exortação para que perdoemos uns aos outros. O perdão é uma das mais belas dádivas que podemos oferecer uns aos outros no Espírito do Senhor. Ele nos leva a renunciar às acusações que podemos ter em nosso coração contra a outra pessoa, que são como uma “conta de dívida” à qual podemos recorrer em determinadas situações. Essas acusações nos envenenam interiormente e impedem o crescimento no amor. Além disso, elas não libertam de fato a outra pessoa.

Aqui somos convidados a entrar na escola de Deus a fim de aprender com Ele o perdão e uma atitude de perdão que está sempre pronta para perdoar. De fato, o próprio Senhor nos oferece constantemente o seu perdão. O sacrifício na cruz foi consumado e abriu a porta da vida eterna para as pessoas de todos os tempos. No entanto, essa dádiva infinita só pode se tornar efetiva quando a aceitamos e permitimos que a torrente do amor de Deus inunde nossa alma.

O mesmo acontece quando uma pessoa realmente nos fez uma injustiça. Somente quando ela se conscientiza e pede perdão é que se abre o caminho para poder aceitar nosso perdão, com o amor e a liberdade que ele traz. Mas mesmo que ainda não vejamos uma porta aberta para a reconciliação, podemos educar nosso coração de tal forma que, de nossa parte, nos livremos de tudo o que nos impede de perdoar. Dessa forma, nosso coração permanecerá aberto à reconciliação e a outra pessoa terá mais facilidade para tomar as medidas necessárias de sua parte.

Nosso modelo é o Senhor, que está sempre pronto para derramar sua compaixão e amor sobre nós e não guarda nada contra nós quando nos aproximamos humildemente dele para pedir perdão.

Se tivermos dificuldades, porque talvez nosso coração esteja muito ferido pelo que sofremos nas mãos de uma pessoa, então é importante apresentar essa ferida interior ao Senhor repetidas vezes com os bloqueios que podem resultar dela, e pedir ao Espírito Santo que nos toque e nos conceda Sua luz. Se fizermos isso com perseverança, perceberemos que talvez as durezas em nosso coração comecem a se dissolver e nos tornemos mais dispostos a perdoar.

O apóstolo Paulo também nos exorta a alargar nossos corações, suportando uns aos outros. Essa é uma grande tarefa, pois significa que devemos ter o coração bem aberto para o amor. Ao mesmo tempo, é também uma escola interior para não sermos imediatamente levados por sentimentos e reações negativas que surgem. Certamente, a exortação para suportarmos uns aos outros não significa que temos de aceitar passivamente todas as coisas realmente difíceis que a outra pessoa nos causa – e que poderiam muito bem ser mudadas – e deixar que isso nos corroa por dentro e transforme nossa alma em uma espécie de “barril de pólvora” que pode explodir a qualquer momento. Da mesma forma, coisas ou experiências que não superamos espiritualmente podem nos deixar doentes por dentro e nos sobrecarregar o tempo todo.

A tolerância mútua também não significa que, por uma questão de princípio, devemos nos abster de apontar para a outra pessoa as atitudes dela que são realmente um fardo para os outros, se ela estiver em condições de mudá-las. Mas isso deve ser feito em um espírito de fraternidade, de modo que seja uma verdadeira “correctio fraterna“.

Aqui, também, o Senhor é nosso modelo de como lidar adequadamente uns com os outros. Isso significa crescer em amor e aprender a olhar para a outra pessoa com os olhos do amor. Suportar uns aos outros está relacionado à longanimidade, que é um dos frutos do Espírito Santo. Quando percebermos até que ponto o Senhor nos suporta, sem jamais retirar seu amor e atenção de nós, entenderemos que nosso coração precisa ser ampliado.

Com muita facilidade, surgem em nós sentimentos negativos que nos tornam impacientes com os outros. Assim, muitas vezes nos esquecemos de que também somos um fardo para os outros, que eles têm de carregar. Se formos constantemente à escola de amor do Senhor e pedirmos ao Espírito Santo que nos ensine como lidar com a outra pessoa, Ele nos mostrará com muita precisão quando devemos simplesmente suportar em silêncio e quando é apropriado fazer uma correção no espírito da caridade fraterna, como podemos praticar a paciência, como resolver nossas tensões internas… 

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