Meu Amigo divino não vem habitar em mim somente quando a minha morada interior já tiver sido ordenada de modo impecável. Pelo contrário, se eu Lhe pedir que a ordene, Ele mesmo me ajudará. Ele não se esquiva de nada; está pronto para me mostrar os cantos imundos que eu não seria capaz de descobrir por mim mesmo; Ele mesmo põe mãos à obra, mas sempre com uma bondade encantadora e grande perseverança. Ele quer permanecer na minha alma para sempre e prepará-la para a eternidade. Lá ela estará eternamente firme e nunca mais se desviará.
Esse é um trabalho árduo para o meu Amigo, e teria sido absolutamente impossível sem o nosso Salvador, que carregou a nossa culpa e a pregou na Cruz. Que bom que Ele é um Amigo divino e que nunca se cansa! Espero não dificultar-Lhe muito as coisas. O quão gostaria de ouvi-Lo e de obedecê-Lo como os santos anjos o fazem!
E como os dons que Ele concede são maravilhosos! O temor de Deus, a piedade, a fortaleza, o conselho, o conhecimento, o entendimento e o glorioso dom da sabedoria. Se ao menos eles se desenvolvessem na minha vida, fariam de mim um novo homem e mais semelhante ao meu Amigo.
O que mais posso lhes contar sobre o meu Amigo? Teria muito o que dizer!
Não quero deixar de mencionar os chamados carismas que Ele concede para a edificação da Igreja: o dom de cura, o dom de profecia, o discernimento de espíritos e tantos outros carismas maravilhosos (1Co 12,7-10). Um grande amigo do meu Amigo divino nos recorda que todos estes dons só adquirem o seu verdadeiro esplendor por meio do amor (1Co 13,2).
A propósito, meu Amigo é de uma beleza celestial e Nele não há mancha alguma: Ele mesmo é a beleza sem defeito. Nos versos poéticos do Cântico dos Cânticos, o sábio Salomão descreve o amor do meu Amigo pela alma e o amor da alma por Ele:
“À sua sombra eu quis assentar-me, com seu doce fruto na boca. Levou-me a adega e contra mim desfralda sua bandeira de amor. Fala o meu amado e me diz: “Levanta-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Vê o inverno: já passou! Olha a chuva: já se foi! As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola está-se ouvindo em nosso campo. Despontam os figos na figueira e a vinha florida exala perfume. Levante-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, pela fenda dos barrancos… Deixa-me ver tua face, deixa-me ouvir tua voz, pois tua face é tão formosa e tão doce a tua voz!” (Ct 2,3b-4.10-14).
Veja bem: Ele me ama mais do que eu jamais poderia amá-Lo. Seu amor precede e incendeia o meu amor.
Quero contar-lhes um pouco mais sobre Aquele a quem a minha alma ama.
Por onde devo começar? Pela Criação do mundo, ou pela descida do meu Amigo divino sobre a mais amada de todas as virgens, que concebeu e deu à luz ao Salvador? Ou deveria também relatar como Ele desceu sobre os apóstolos cinquenta dias após a Ressurreição de Cristo, em uma poderosa rajada de vento, iluminando-os e fortalecendo-os para que pudessem anunciar a mensagem da salvação nas mais diversas línguas a todos os que se reuniram em Jerusalém (Atos 2)?
Tudo isso poderão ler em detalhes por si mesmos nas Sagradas Escrituras!