Ontem refletimos sobre a passagem da purificação do Templo, e depois a aplicamos ao nosso “templo interior”, que também precisa ser purificado.
No início do nosso “itinerário quaresmal” citei a oração de São Nicolau de Flüe, cuja primeira parte diz: “Meu Senhor e meu Deus, afastai de mim tudo o que me distancia de vós!” Esta afirmação resume a chamada “via purgativa” no caminho espiritual.
Tendo ouvido na leitura de ontem como a “ira do Senhor” por causa da maldade da Cidade de Nínive foi aplacada pela penitência de seus habitantes, de modo que o castigo não caiu sobre eles, é conveniente que hoje meditemos sobre a passagem da purificação do Templo (Mt 21,12-13), que foi o Evangelho da Missa Tradicional há dois dias.
Um menino estava na margem de um grande lago e acenou com os braços para chamar um barco que já estava em pleno curso. Um homem se aproximou dele e disse: “Não seja bobo! Você acha que o barco vai mudar de rumo só porque você está chamando?” Mas, com certeza, o barco virou para a margem, atracou e levou o menino a bordo. Ao subir a bordo, o menino disse ao homem: “Não, senhor, não sou tolo! O capitão é meu pai”.
Seguindo o lecionário do Novus Ordo, a leitura de hoje nos narra a história de Jonas e da cidade de Nínive (Jon 3,1-10). Seus habitantes converteram-se e, consequentemente, foram exonerados do castigo que teria recaído sobre eles.
Vamos levar à sério esta passagem da Sagrada Escritura durante nosso itinerário quaresmal e tentar atualizá-la.
“A maioria das pessoas não tem ideia do que Deus poderia fazer delas se elas se colocassem à sua disposição” (Santo Inácio de Loyola).
Santo Inácio, um mestre da vida espiritual, nos lembra com essa frase o quanto Deus ama fazer de cada pessoa o que ela realmente é. Em cada pessoa deve brilhar aquilo que mais glorifica nosso Pai e a enobrece.
Quem poderia fazer isso melhor do que o próprio Deus?
Tanto no Rito Tradicional como no Novus Ordo, a leitura de hoje proclama esta passagem do Profeta Isaías sobre a Palavra de Deus:
“Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca, não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la” (Is 55,10-11).
“Se eu soubesse antes o que sei agora, que o pequeno palácio de minha alma abriga um Rei tão grande, não o teria deixado sozinho nele com tanta frequência”. (Santa Teresa de Ávila).
Santa Teresa chega a uma conclusão essencial, à qual também devemos obedecer sem demora. De fato, essa realidade se aplica a toda alma em estado de graça. A Santíssima Trindade habita nela e a torna Seu Templo. Se aceitarmos o convite constante do grande Rei, Sua habitação se tornará uma fonte constante de vida dentro de nós. Nas profundezas de nossa alma, ouviremos atentamente nosso Pai, dialogaremos com Ele, cultivaremos o amor…