Sobre o discernimento dos espíritos – Parte II

Hoje voltamos à meditação de 7 de janeiro sobre o discernimento dos espíritos. Portanto, embora esta não seja a leitura do dia, vamos ouvir novamente uma passagem da Carta de São João:

 1Jo 4,1-6

Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo. Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de Deus; todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo.

Vós, filhinhos, sois de Deus, e os vencestes, porque o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo. Eles são do mundo. É por isso que falam segundo o mundo, e o mundo os ouve. Nós, porém, somos de Deus. Quem conhece a Deus ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisso que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro. 

Esta passagem da carta de João nos exorta a examinar se os espíritos são de Deus….

Como mencionei em minha meditação de anteontem, este discernimento deve ser realizado com grande precisão, porque o espírito do Anticristo não só está em ação onde quer que seja negado que Jesus é o Cristo; mas se manifesta sempre e onde quer que a doutrina que recebemos de Deus através de Sua Igreja seja atacada, relativizada ou, no pior dos casos, negada; isto é, onde quer que o erro se prolifere.

Anteontem expliquei que de forma alguma se ofenderia o amor ao chamar as coisas pelos seus nomes e apontar o pecado pelo que realmente é… O mesmo se aplica ao erro, que também deve ser claramente apontado. Ao fazer isso, não se está pronunciando um juízo moral sobre a pessoa em erro, nem se está condenando-a; está-se simplesmente expondo a situação objetiva a partir da perspectiva de nossa fé católica.

Tomemos, por exemplo, os erros teológicos e as doutrinas falsas que se desviam do ensinamento da Igreja. É negado, por exemplo, que Cristo verdadeiramente ressuscitou dos mortos; ou a presença real de Jesus na Eucaristia é questionada; ou a virgindade de Maria ou outros artigos de nossa fé são negados… Quão desastrosas são as consequências desses erros entre os fiéis! O que acontece se, por exemplo, os seminaristas são ensinados nessas falsas doutrinas? Quais serão as repercussões para as futuras gerações de sacerdotes? Não há dúvida de que é o espírito do Anticristo que está trabalhando ali! De fato, ele já está no mundo, como São João nos diz em sua carta.

Tudo isso deve ser claramente apontado, e os pastores devem advertir seus fiéis sobre tais erros doutrinários. Se não o fizerem, não estarão mais protegendo seu rebanho e poderão acabar se tornando cooperadores com o espírito do Anticristo.

Devemos escutar a doutrina autêntica da Igreja e seguir o ensinamento dos Apóstolos como o recebemos pela Tradição. Não podemos alimentar ilusões! Devemos perceber que a Igreja está cada vez mais sob o ataque do espírito do Anticristo, que está tentando se infiltrar nela. Mas o mais grave seria se aqueles que têm a responsabilidade pelo Povo de Deus não tivessem consciência disso e não o discernissem corretamente… Se este fosse o caso, os próprios fiéis teriam que discernir os espíritos, sob a orientação daqueles poucos pastores que não se comprometeram com o espírito do mundo.

Finalmente, gostaria de esclarecer neste contexto o que quero dizer com “separação dos espíritos”. O que dissemos a respeito do discernimento dos espíritos é a parte que compete a nós homens, segundo a exortação do apóstolo João: “Não deis fé a qualquer espírito, mas exa­minai se os espíritos são de Deus.”

A “separação dos espíritos”, por outro lado, significa – do meu ponto de vista – aquela dissociação visível e clara entre a luz e as trevas. No capítulo 13 do Evangelho de Mateus, quando Jesus fala do Juízo Final, ele afirma que “os anjos virão separar os maus do meio dos justos” (Mt 13,49).

Espero e rezo para que Deus envie seus anjos, de modo que a confusão que atualmente está se espalhando na Igreja chegue ao fim. Em outras palavras, que os anjos ajudem a atar esse espírito anti-cristão, que de várias maneiras se infiltrou na Igreja, para que ele não possa mais exercer sua influência. Os fiéis católicos precisam ser claros sobre o que é e o que não é católico; sobre o que é verdade e o que é erro; sobre o que é moralmente bom e o que é moralmente mau; sobre o que é oportuno para o ecumenismo e o que não é; sobre quais pastores estão realmente cumprindo sua missão e quais se tornaram mercenários (cf. Jo 10:11-13)…

Como nós, homens, somos tão suscetíveis ao erro, é apropriado que sejam os santos anjos a separar a luz das trevas, porque eles agem em perfeita união com Deus. São eles que fazem a separação dos espíritos; são eles que desmascaram a obra dos demônios; são eles, como membros da Igreja triunfante, que vêm apressadamente em auxílio da Igreja militante, para afastar os espíritos maus e para que não se misture a luz com as trevas.

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