Aceitar as correções

Hb 12,4-7.11-25

Irmãos: Vós ainda não resististes até ao sangue na vossa luta contra o pecado, e já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos: ‘Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não te desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho’.

É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata. Pois qual é o filho a quem o pai não corrige? No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados. Portanto, ‘firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés’, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado. Procurai a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor; cuidai para que ninguém abandone a graça de Deus. Que nenhuma raiz venenosa cresça no meio de vós, tumultuando e contaminando a comunidade.

 

Muitas vezes nós, homens, achamos difícil aceitar as correções ou reprovações. Talvez possamos reconhecer e aceitar com o nosso entendimento o quanto são necessárias e úteis, conscientes que ninguém é perfeito. Mas as nossas emoções se rebelam facilmente e nos sentimos feridos em nossa honra ou tratados de forma injusta. Existem culturas onde é quase impossível corrigir, porque as pessoas sentem de imediato que a sua honra está sendo perdida.

No entanto, quando Deus nos corrige Ele o faz normalmente através de pessoas ou circunstâncias. É por isso que se faz necessário um olhar sobrenatural, já que a intermediação entre pessoas é geralmente imperfeita, justamente por se tratarem de seres humanos.

A leitura de hoje amplia este olhar sobrenatural. O Apóstolo nos dá a entender que as correções são sinais do amor de Deus, mostrando-nos que Ele cuida de nós e busca o nosso progresso no caminho da perfeição. As correções são um sinal de Sua bondade paternal para conosco! Quanto mais compreendermos isso e aprendermos a superar a nossa sensibilidade diante das repreensões, Deus poderá nos guiar mais facilmente.

Mas como podemos aprender a superar a nossa sensibilidade de modo que possamos compreender as correções mais rapidamente e digeri-las melhor? O texto de hoje nos mostra o caminho:

Primeiramente, temos que aceitar na fé que as correções são uma manifestação do amor de Deus, mesmo se emocionalmente não as sentimos desta forma.

Assim, vamos aprendendo das experiências anteriores que certamente todos nós já tivemos: quando aceitamos uma correção e superamos a nossa resistência e desgosto por ela, ela “produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados.”

Podemos manter estes dois elementos em mente quando recebemos uma correção. Além disso, é de grande ajuda se começarmos a rezar interiormente logo em seguida, invocando o Espírito Santo para apaziguar a rebeldia interior. É muito importante que esta rebeldia não se manifeste externamente, contradizendo aquele que nos corrige, acusando os outros, tornando-nos agressivos, etc.

Mas, a fim de manter uma atitude saudável em nosso seguimento de Cristo, tampouco devemos cair em um comportamento servil que nos faça parecer oprimidos. Tal atitude pode surgir quando interiormente não aceitamos e nem tiramos bons frutos das correções, mas as tomamos como uma espécie de violação e nos sentimos oprimidos sob um poder ditatorial, ou traídos por aquele que nos corrige. Por isso é necessário que passemos pelos processos interiores para aceitarmos verdadeiramente a correção.

Todavia, facilmente pode acontecer que recebamos correções que sejam grosseiras, exageradas e sem um conhecimento pleno da situação. Quando isso ocorrer precisamos praticar a prudência cristã, discernindo e questionando-nos: a minha resistência à correção vem do meu orgulho, que surge geralmente diante de toda correção, ou existem realmente razões objetivas que tornam necessário o esclarecimento da situação? Em todo caso, não devemos perder o fruto que a correção pode nos dar, mesmo que tenha sido feita imperfeitamente.

Não podemos presumir que todos os que têm a autoridade para nos corrigir o farão perfeitamente. Por isso, seria errado se a forma imperfeita de corrigir da outra pessoa nos chocar tanto a ponto de não aceitarmos a repreensão ou adotarmos uma atitude de contra-ataque. Isto nos privaria da oportunidade de examinar o conteúdo da correção e não tiraríamos proveito dela. E se, efetivamente, houvessem julgamentos errados ou injustiças, então deveríamos primeiramente aplacar nossos sentimentos conturbados com a oração antes de buscar o esclarecimento do assunto.

Além disso, a leitura de hoje recomenda que nos concentremos no caminho da santificação e busquemos estar em paz com todos. Aplicado às nossas vidas, isto certamente significa que devemos manter os nossos corações livres em relação a todas as pessoas, e nunca permitir que uma raiz venenosa cresça no meio de nós, prejudicando e contaminando tudo.

Uma dica importante: não devemos tolerar ressentimentos no fundo de nossa alma que possam se manifestar como acusações contra outras pessoas. Deus, que sempre nos perdoa, quer que vivamos nesta atitude também.

É por isso que é necessário conhecer o próprio coração. Pessoas que são facilmente amarguradas provavelmente ainda guardam em seus corações coisas não perdoadas e disso pode surgir uma atitude de constante acusação contra certas pessoas ou, em casos mais graves, esta acusação se estende a todas as pessoas e circunstâncias em geral, chegando até mesmo ao ponto de culpar o próprio Deus. Esta amargura se espalha, fere o outro, e se torna uma fonte de injustiça.

Finalmente, uma última advertência do texto de hoje: não ponhamos a graça de Deus a perder. Tratemos com grande cuidado a graça que nos foi confiada e cultivemo-la na oração, na leitura das Sagradas Escrituras, nos sacramentos, no trabalho, no nosso interior e nas obras de caridade.

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