A riqueza da Palavra de Deus (Parte II)

Para retomar o tema de ontem, vamos ouvir novamente a breve leitura sobre a eficácia da Palavra de Deus:

Is 55,10-11

Isto diz o Senhor:  Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, 11assim a palavra que sair de minha boca, não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la.

Ontem tínhamos falado sobre a grande bênção de conhecer a Palavra e de acolhê-la em nosso interior. Também havíamos refletido sobre as dificuldades que impedem que ela dê frutos abundantes em nós.

Para viver com a Palavra e na Palavra, é indispensável meditá-la. É preciso reservar um tempo todos os dias para dedicar-se à Palavra de Deus, mesmo que sejam apenas as leituras bíblicas da liturgia daquele dia. Naturalmente, seria ainda melhor se, além das leituras diárias, pudéssemos mergulhar mais profundamente nas Sagradas Escrituras. Isto é chamado de “Lectio divina”, uma prática comum nos mosteiros.

Também pode ser enriquecedor o intercâmbio com outras pessoas que conhecem a Bíblia. Existem, por exemplo, “círculos bíblicos”, nos quais as pessoas meditam sobre a Palavra de Deus e trocam idéias sobre ela. Quando várias pessoas estão reunidas, o ponto de vista de cada pessoa pode ampliar nossa perspectiva sobre a Palavra de Deus.

Também é aconselhável ouvir reflexões bíblicas, que podem ajudar a compreender melhor as leituras do dia. Esta é minha intenção com as meditações diárias, por exemplo, e o mesmo se aplica a outras reflexões deste tipo. Se buscarmos boa literatura, os Padres da Igreja nos oferecem interpretações substanciais da Sagrada Escritura.

Quando a Palavra de Deus se torna nosso alimento diário, podemos notar com o tempo que não queremos mais viver sem ela. Nossa alma começa a ter fome da Palavra, da mesma forma que nosso corpo tem fome de pão bom e nutritivo. Quanto mais regularmente ouvimos e internalizamos a Palavra, mais ela nos moldará. Isto é muito importante! Desta forma, a Palavra de Deus definirá nosso pensamento e aprenderemos a tomá-la como critério e a penetrar com ela as situações da vida.

Deus nos dá Sua Palavra como um presente. É muito importante para Ele que aprendamos a reconhecer Sua voz. Então não a ouviremos mais apenas na Santa Missa e nas leituras ali proclamadas, mas ela começará a ressoar e a estar constantemente presente em nossos corações. Desta forma, o Espírito Santo também poderá nos guiar mais facilmente, lembrando-nos de tudo o que Jesus disse e fez (Jo 14,26). Quanto mais interiorizamos a Palavra de Deus, mais forte será a presença de Deus em nós, curando-nos e iluminando-nos.

Também é importante lembrar que “a repetição é a mãe da sabedoria”. Isto significa que, repetindo o que ouvimos ou lemos, isto poderá se arraigar mais profundamente em nós. Quantas vezes ouvimos as palavras do Evangelho e elas se arraigam em nós! Além disso, cada vez podemos descobrir algo novo na Palavra de Deus, pois seu significado é inesgotável.

Mas suas diferentes dimensões só podem se desdobrar plenamente quando nos tornamos “praticantes da Palavra”. Poderíamos dizer que “a Palavra se torna carne” quando a aplicamos concretamente à nossa situação de vida.

Vemos, então, que a meditação da Palavra de Deus é uma graça imensa para nós. Escutar atentamente a Sagrada Escritura quando estamos na liturgia nunca é em vão; meditar sobre ela em casa, com a família ou com a comunidade nunca é em vão. A Palavra de Deus nos transforma quando a ouvimos corretamente e a colocamos em prática!

Há um outro aspecto importante a ser considerado. Eu havia dito àqueles que seguem minhas publicações em Balta-Lelija que gostaria de explicar com mais detalhes a “armadura de Deus” descrita no capítulo 6 da Carta aos Efésios, para que possamos revestirnos dela para o combate espiritual no qual estamos inevitavelmente envolvidos. Neste contexto, São Paulo nos diz: “Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus.” (Ef 6,17)

Nesta luta, a Palavra de Deus é uma “arma de ataque”, que separa a verdade da mentira e do erro. Em vista da confusão atual, que penetrou até mesmo na Igreja, é ainda mais importante que nos apeguemos à Palavra de Deus, que a interiorizemos e a tomemos como um critério seguro para nossa ação. O diabo deve ceder perante a Palavra de Deus e sua correta interpretação e aplicação, como nos mostra claramente a passagem das tentações de Jesus (Mt 4,1-11).

Com a proclamação da Palavra de Deus, a luz que ilumina a escuridão se espalha. Temos então em nossas mãos uma verdadeira espada espiritual:

“A Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração. 13. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.” (Hb 4,12-13)

Graças à Palavra de Deus, nada sombrio e escuro no nosso interior pode escapar à luz divina. Esta luz clara também se espalha quando sabemos discernir tudo o que vem de nosso caminho de acordo com a Palavra de Deus. Nós, católicos, contamos ainda com a doutrina autêntica da Igreja.  Vemos, então, que temos uma excelente armadura para combater a proliferação das trevas e da confusão. Empunhemos com prudência e convicção estas armas que o Senhor nos confiou, para que Ele possa alegrar-se de seus “guerreiros da luz “!